quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O Brasil é uma opção viável para os investidores internacionais

Eu nasci em 1959, ano que coincidiu com a metade do primeiro ciclo de crescimento da economia brasileira no século XX. O  Brasil entrava na era da industrialização no  governo de Juscelino Kubitschek, quando as montadoras de automóveis começaram a se instalar no Brasil e a Petrobrás foi criada. Entramos na era da industrialização com uma grande defasagem em relação às principais economias do mundo. Poucos dias depois do primeiro aniversário, Brasília, a nova capital do Brasil foi inaugurada. A construção  demandou três anos e dez meses. Um grande desafio para a época.
Passei grande parte da infância ouvindo meus professores dizer que o Brasil era um gigante adormecido. Qualquer criança que abre um atlas de Geografia em sala de aula não teria dúvidas de acreditar na afirmação, afinal, o Brasil é um país de dimensão continental, possuidor de vastos recursos naturais, solo fértil, paisagens admiráveis, um povo acolhedor e trabalhador. Infelizmente minha geração passou a infância, juventude e início da idade adulta sob as rédeas de uma ditadura militar que trouxe prejuízos e retrocessos, especialmente por cercear os direitos fundamentais de liberdade, expressão e opinião, entre outros, e do hábito costumas de contrair dívidas e deixar o pagamento para ás próximas gerações.
Ainda assim tivemos um curto período de crescimento, entre o início da década de 1970 até a crise mundial do petróleo em 1974. O custo do curto milagre econômico brasileiro foi a dívida externa que somente no fim do segundo mandato do governo Lula deixou de ser um problema. Depois de 1974 vieram tempos difíceis. Perdemos uma década inteira (1980) que do ponto de vista econômico foi catastrófica. As principais crises que abalaram nossa economia foram: o crash de 1987, o Nikkey Crash em 1990a crise monetária da Europa em 1992, e, a elevação da meta da taxa de juros do FED americano em 1994.   Ainda trago na lembrança, o índice de 84,34% de inflação no mês de fevereiro de 1990, quando o governo Collor expurgou 50% da inflação por decreto. Você leu, corretamente. Uma inflação de quase noventa por cento em um único mês.
Para quem não viveu tal situação significa o seguinte: O preço de qualquer produto que você comprava em uma prateleira estava sujeito a mudar, subitamente, entre o momento que você tirava o dinheiro do bolso e efetuava o pagamento no caixa da loja. Os balanços financeiros das companhias eram publicados em duas moedas. Razão suficiente para aumentar drasticamente, o nível de estresse dos contadores, atuários e economistas e colocar nossa profissão no roll da lista de profissionais de risco mais elevado para sofrer um infarto ou um acidente vascular cerebral. Não vou me alongar nisso, os jovens não acreditariam nas coisas que eu teria para contar.
Veio o plano Real em 1994 na gestão do ministro  Fernando Henrique Cardozo. Sem entrar em detalhes ideológicos, o Plano Real foi de fato um marco no processo de crescimento econômico que hoje nos encontramos. Antes do Plano Real, todos os demais planos econômicos haviam fracassado por falta de consistência ou porque, apenas não fazia sentido algum, especialmente o Plano Collor que confiscou a poupança dos brasileiros em 1990. Gesto que entre outras ações descabidas levou a destituição do poder por meio de impeachment, sem tramas para a Democracia.
Depois da implantação do plano Real em 1994, inúmeras crises assolaram o mundo já globalizado, entre elas: a crise Mexicana que durou de 1994 a 1995 que se estendeu como  epidemia por toda América Latina, a crise Asiática em 1997 que propiciou uma queda de 50% na bolsa da Coréia, a crise da Rússia em 1998, acompanhada de outras crises generalizadas naquele ano. Depois tivemos o fim da âncora cambial que resultou na forte desvalorização do Real em 1999. Mais adiante, o rompimento da bolha do mercado acionário das empresas dot.com em 2000.
Todas essas crises represaram, demasiadamente, o avanço da economia brasileira, mas ainda assim realizamos muitos progressos, especialmente em vista da estabilidade econômica que o Plano Real permitiu. Se as crises desencadeadas na década de 1990 não tivessem ocorrido com tanta intensidade, não tenho dúvidas que o Brasil estaria em situação mais privilegiada do que se encontra hoje.  
Confesso que sempre acreditei no que minhas professoras diziam na infância ao afirmar que o Brasil era um gigante adormecido. Entretanto com o passar dos anos passei a crer na tese de que para despertar o gigante seria necessário ocorrer algum fato de grandes proporções no hemisfério norte. Algo semelhante ao que propiciou a vinda da família real para o Brasil, quando Napoleão Bonaparte  tomou a Europa afugentando a família real e a corte Portuguesa para o hemisfério sul. Nesse período, o  Brasil teve prosperidade. Situação semelhante vivida pela América do Norte que foi beneficiada com o período de perseguição religiosa na Europa que promoveu a ida de mentes brilhantes para contribuir com o crescimento dos Estados Unidos da América.
Talvez o crash do mercado imobiliário nos Estados Unidos em 2008 que se alastrou ao redor do mundo, guardadas às devidas proporções tenha ido ao encontro à crença pessoal de que o  Brasil poderia sair fortalecido desse episódio tão nefasto que abalou a economia global trazendo desconfiança, perdas de postos de trabalho, falências de inúmeras empresas, entre outras implicações.
Para um país se tornar uma referência mundial são diversos aspectos que devem ser considerados. Eu não tratarei deste assunto aqui, pois tenho convicção que, independente de quem será o mandatário da próxima gestão do governo brasileiro acredito que o gigante acordou para os brasileiros e para o mundo em 1994.
É possível que muitos de vocês discordem de minha opinião, eu os respeito, pois opiniões estão sempre sujeitas a discordância. A única influência pela escolha de um ou outro representante para o próximo mandato presidencial reside na velocidade ou aceleração com a qual ocorrerá o crescimento brasileiro, pois os fundamentos da economia brasileira estão muito bem consolidados. Da mesma forma, o cenário de estabilidade política que foi negado a minha geração, e tão necessário para um povo exercer sua cidadania é hoje uma realidade, indiscutível. O Brasil é um país democrático.
Se alguns anos atrás eu sentia um pouco de frustração, quando em viagem ao  exterior perguntado sobre minha origem, devido ao sotaque era comum ouvir como resposta exclamações do tipo: “Ah Brasil”?! - Pelé, samba, carnaval, futebol, praias, mulheres bonitas, música, etc. Hoje já não é mais assim. A percepção do mundo sobre o Brasil mudou para melhor.
 No âmbito dos países do BRICS, o Brasil é um dos mais atraentes para investidores e repleto de oportunidades para investimentos em diversos setores da economia, devido ao parque industrial altamente diversificado. Somos um país de empresas sólidas e prósperas que atuam em diversos setores da atividade econômica a nível global. O nível da economia está em franca expansão. Junto com este fato é uma realidade, a elevação de indicadores sociais de igual importância como: nos níveis de melhoria na educação, qualidade de vida, acesso à informação entre outros tantos destaques.
Em tempos de eleição é comum os políticos assumirem para si o sucesso de um processo de longo prazo, menosprezando iniciativas de sucesso de governos anteriores. Mas o fato do Brasil estar na condição atual não é mérito de um governo, muito menos de uma pessoa. Quem pensa que tal fato é verdade eu contesto, veementemente. Trata-se de uma atitude eleitoreira, populista, mesquinha e egocêntrica. Em suma é uma visão obtusa dos fatos. A prestigiosa situação, na qual, o Brasil se encontra é resultado da conquista de um povo. Isso somente foi possível de acontecer por uma única razão – O Brasil acordou após um longo período de sonolência, conforme profetizaram meus professores na infância. 
Somos a oitava economia do mundo. Um estudo do banco Goldman Sachs intitulado "The Long-Term Outlook for the BRICS and N-11 Post Crisis" projeta a economia do Brasil entre ás quatro principais economia do mundo em 2050.
Convido você a ler o artigo intitulado “Brazil on the Move” que estimulou escrever esse artigo. O artigo que faço referência foi escrito por dois executivos da Accenture, uma prestigiosa empresa de consultoria de atuação global que e foi enviado por um colega de mercado, Francisco Galiza. Vale à pena conferir. O link do artigo na internet é: http://www.accenture.com/NR/rdonlyres/483D1E3E-7FAA-446B-8C2B-AF84663A69D7/0/Accenture_Outlook_Brazil_On_the_Move.pdf
Não tenho dúvidas que o mercado brasileiro oferece excelentes oportunidades de negócio para investimentos estrangeiros nos diversos setores da economia. Não apenas pelo fato de possuirmos uma indústria diversificada, mas especialmente para os investidores que administram capital estratégico para investimentos de longo prazo como nas áreas de infraestrutura em vista da aproximação de dois eventos importantes; a Copa do Mundo em 2014 e os Jogos Olímpicos em 2016. Nosso país é de norte a sul um celeiro de oportunidades. Bons negócios, investidor.

Marco Pontes é diretor da LG&P Advisory Services, membro do IBA e da Academia Nacional de Seguros e Previdência – ANSP. Email: marco.pontes@lgpconsulting.com.br

3 comentários:

  1. Marco, muito boa a sua análise e a indicação do artigo da Accenture. Parabéns! No que se refere à Infra a ser construída por conta dos dois eventos de 2014 e 2016, temos muitas controvérsias sobre os reais benefícios/retorno desse tipo de investimento e, portanto, vc tem muito mais para contribuir nesse cenário. Ficamos no aguardo. Boa sorte!

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  2. Quando foi anunciado, oficialmente que o Brasil seria o país sede da Copa do Mundo e dos Jogos Olímpicos eu comemorei o fato como uma grande vitória.
    Eu estou ciente das controvérsias sobre esse tema, mas faço parte da fileira que defende, fervorosamente, os benefícios que os dois eventos trazem como acredito você, também. Tenho inúmeras razões para enumerar os benefícios. Se tiver que detalhar cada uma delas teria que escrever um artigo para tratar desse tema, mas confesso que no momento não disponho de tempo.
    Mas não vou deixar em branco seu comentário. A principal vantagem reside no benefício econômico que eventos dessa natureza proporcionam. Investimento em obras de infraestrutura, educação, saúde, transportes, estradas, hotelaria, segurança, entre outros que geram aumento de empregos e de bem estar para a população, em geral.
    É uma oportunidade única para o crescimento do país. Sem falar no fato de nosso povo apreciar tanto o esporte que faz parte da cultura brasileira. A sensação de alegria de poder ir com minha família assistir um jogo da copa do mundo no Maracanã ou de uma competição olímpica em que estarão presentes os melhores esportistas representando seus países de origem não tem preço. Obrigado por seu comentário. Um abraço.

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  3. Prezado Sérgio
    Gostaria de agradecê-lo por corrigir a informação que eu havia publicado no texto original dando conta que a inflação de 84% ocorreu em 1994. Você tem razão foi em 1990. Já fiz o ajuste no texto acima. Muito obrigado. Marco Pontes.

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