quinta-feira, 30 de setembro de 2010

A importância do Asset-Liability Management – ALM sob a perspectiva do gerenciamento estratégico de uma EFPC ou EAPC – Parte II.

           Para obter melhor entendimento do tema, sugiro a leitura do artigo anterior, onde eu descrevi o processo de avaliação determinística, caso contrário terão dificuldades de entender a importância do tema ALM, segundo a perspectiva abordada neste artigo.
Diferente da análise determinística, a análise estocástica é baseada em testes probabilísticos em que o comportamento futuro do plano é projetado estatisticamente a partir de múltiplos cenários, em que as ocorrências obedecem a uma determinada distribuição de probabilidade. Um exemplo típico de teste probabilístico a ser considerado é representado por uma árvore de probabilidade de uma projeção estocástica, considerando a distribuição de freqüência do tipo Bernoulli para eventos de sobrevivência e persistência no âmbito de um plano de aposentadoria.
O ALM é uma ferramenta que utiliza processo estocástico. A título de exemplo, consideremos um EAPP ou EFPC que tem como objetivo básico acumular recursos para honrar os benefícios que serão pagos no futuro aos participantes. Para que esse objetivo seja atendido, os produtos comercializados captam poupança de longo prazo que deve ser adequadamente investidas de forma que os retornos obtidos sejam suficientes para garantir o pagamento dos benefícios que a Entidade se comprometeu realizar. Neste sentido, a atividade de gestão de recursos deve ser considerada estratégica para tais entidades, pois viabiliza o atendimento do objetivo básico, o pagamento dos benefícios.
 A finalidade do ALM é estabelecer uma estratégia de aplicação dos ativos financeiros no longo prazo. Procura-se compatibilizar o fluxo de entrada de recursos com o pagamento de benefícios futuros de modo que a entidade obtenha ao longo do tempo a melhor rentabilidade possível, ou situação ótima.
Os economistas conhecem bem o valor do custo de oportunidade, bem como as perdas que poderão advir da adoção de uma política equivocada da aplicação desses recursos. Existem vários tipos distintos de risco que afetam a gestão de uma Entidade dessa natureza, tanto do lado dos ativos quanto dos passivos atuariais dos planos. Dentre eles destacamos: (i) o risco de mercado que está associado às incertezas que geram oscilações de preços praticados diariamente pelo mercado para determinados tipos de ativo; (ii) o risco de crédito que está associado à perda potencial relativa ao risco financeiro, ético ou moral de determinada obrigação ou devedor; (iii) o risco operacional que está associado à ocorrência de problemas relacionados a controle e procedimentos operacionais inadequados; (iv) o risco de liquidez associado à dificuldade de se converter determinado ativo em dinheiro, ou seja, de ter que se vender o ativo a um preço teoricamente satisfatório, perdas do custo de oportunidade ou deságio; e finalmente, (v) os riscos atuariais em função da adoção de premissas atuariais que divirjam da realidade, levando a projeções e cálculos imprecisos dos passivos atuariais.
A participação do atuário na condução desse processo é condição essencial para o sucesso de estudos desta natureza. Ninguém melhor que ele está capacitado para estabelecer a estrutura de modelagem do passivo. Nos Estados Unidos e na Europa, os atuários participam ativamente como condutores deste processo. No Brasil tal perspectiva de atuação é recente. Abre-se uma nova porta para a atuação desses profissionais. Da mesma forma, espero que, em breve a grande maioria das empresas procurará imprimir maior tecnicidade na apuração dos custos e obrigações dos produtos que comercializam no mercado abandonando aos poucos os modelos determinísticos de avaliação e optando por empregar os modelos estocásticos de avaliação atuarial. Quando isso ocorrer, certamente o mercado terá dado um grande avanço. 

Marco Pontes é diretor da LG&P Advisory Services, membro do IBA e da Academia Nacional de Seguros e Previdência – ANSP. Email: marco.pontes@lgpconsulting.com.br

A importância do Asset Liability Management – ALM sob a perspectiva do gerenciamento estratégico de uma EFPC ou EAPC – Parte I.

A gestão estratégica de uma Entidade Aberta ou Fechada de Previdência Complementar é complexa, pois envolve a administração de diversos tipos de riscos. Neste artigo pretendo focar a importância do ALM como uma ferramenta eficaz no processo de gerenciamento de uma instituição que administra recursos de médio e longo prazo, bem como a importância do atuário no processo de definição da política estratégica de aplicação dos recursos financeiros dessas empresas.
Em 1962 Alfred Chandler descreveu em seu trabalho intitulado Strategy and Structure: Chapters in History of the American Industrial Enterprise, estratégia como sendo “a determinação de metas e objetivos básicos de longo prazo de uma instituição e a adoção de medidas de ação e alocação de recursos necessários para se atingir aqueles objetivos”.  Asset significa (Ativo), Liability (Passivo), Matching (casamento) e Modeling (Modelagem).
O conceito de ALM é amplo. Ao mesmo tempo em que se constitui uma ferramenta para gerenciamento de risco, visto que engloba todos os instrumentos de controle de riscos, é também uma ferramenta de gestão estratégica de grande valor para o administrador, pois abrange o planejamento dos planos ou produtos comercializados por essas entidades. O objetivo básico de uma Entidade Fechada ou Aberta de Previdência Complementar - EFAPC é acumular reservas capazes de honrar os benefícios junto aos participantes ou segurados no futuro.
O ALM deve levar em consideração as particularidades de cada organização para que se possa atingir às melhores expectativas que essa ferramenta oferece aos gestores.
O Mathing e o Modeling são conceitos derivados da aplicação estratégica do ALM. Todos estão familiarizados com o conceito de entrada de recursos em caixa, sejam eles provindos dos prêmios ou das contribuições recebidas, ou mesmo rentabilidade obtida no mercado por essas entidades ou com as saídas de caixa, quer seja por pagamento de sinistros no caso de seguro ou de rendas e pecúlios.
O estrutura do ALM no caso de uma EAPC ou EFPC que recebe recursos, não prevê só os prêmios de apólices vigentes e futuras, como também o carregamento, a taxa de administração de fundos, os resgates de títulos com maturidade pré-definida, a valorização/desvalorização de ações, os ganhos com instrumentos derivativos e o diferimento de agenciamento e impostos que compõem a cesta de variáveis que são consideradas no processo de avaliação.
Tendo como exemplo um plano de aposentadoria, administrado em uma EFPC ou EAPC, o modelo ALM assume uma magnitude de importância à medida que as práticas correntes no Brasil de avaliação atuarial são, em sua grande maioria, adotadas com base em modelos determinísticos.
Para compreender na prática os conceitos de modelo determinístico e modelo estocástico de avaliação, apresento a seguir um exemplo típico de avaliação de um plano e previdência, segundo o modelo determinístico. Na prática, calcula-se uma esperança matemática do valor da provisão matemática com base em valores futuros de benefícios multiplicados pelas suas probabilidades médias de ocorrência. Em suma, no longo prazo, tal metodologia implica que um determinado plano tem uma “probabilidade de ruina”de 50%, isto é, em 50% dos casos os recursos não serão suficientes para pagar os benefícios, exigindo aportes adicionais e não-programados do patrocinador ou administrador do fundo para cobrir a lacuna.
A análise determinística é baseada em testes de cenários específicos que simulam o comportamento futuro do plano.  Não quero com essa afirmação apregoar que o emprego de modelos determinísticos são inviáveis, pois as empresas, em geral, utilizam salvaguardas para compensar esse efeito adverso que os modelos determinísticos trazem. É possível compensar as oscilações e os efeitos adversos advindos do emprego de modelos determinísticos por meio do emprego de hipóteses mais conservadoras em vez de hipóteses realísticas, à guisa de majorar as reservas técnicas para compensar o risco de não provisionamento de uma possível oscilação na reserva ou mediante compensação ou por meio de uma reserva com a finalidade de cobrir uma possível insuficiência. Nos balanços dessas Entidades, normalmente esses valores estão registrados na Reserva de Oscilação de Riscos. Ainda assim, os órgãos reguladores cientes destes desvios procuram criar salvaguardas. Um caso típico no âmbito da Superintendência de Seguros Privados – SUSEP foi exigir do mercado a constituição da Provisão de Insuficiência de Prêmios – PIP e no caso de plano de aposentadoria, a Provisão de Insuficiência de Contribuição – PIC. Ação similar a PREVIC por meio de referências mínimas para realizar as avaliações atuariais dos planos. Continua.........

Marco Pontes é diretor da LG&P Advisory Services, membro do IBA e da Academia Nacional de Seguros e Previdência – ANSP. Email: marco.pontes@lgpconsulting.com.br

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Onde os atuários podem encontrar oportunidades de trabalho?

Um jovem estudante do curso de Ciências Atuariais preocupado em direcionar sua carreira fez o seguinte questionamento.  ”Além das opções tradicionais, existem outras áreas em que o atuário pode encontrar trabalho”? Antes de responder a pergunta gostaria de fazer uma abordagem do passado.
Três décadas atrás achar um atuário era uma tarefa difícil. Era possível encontrá-los em órgãos públicos, tais como: SUSEP, Ministério da Previdência Social, a antiga Secretaria de Estatística e Atuária da Secretaria de Previdência Complementar. No IRB, empresas seguradoras, fundos de pensão, montepios e algumas poucas empresas de consultoria que atendiam o mercado segurador e os fundos de pensão.
Essa dificuldade era justificada em parte pelo fato de muito poucas instituições no país ministrar o curso de Ciências Atuariais. A UFRJ foi pioneira. Para os interessados, a opção do vestibular era na área de Matemática. Após o segundo ano, o aluno fazia a opção por uma das seguintes áreas: estatística, informática, licenciatura ou ciências atuariais. Mais tarde outras instituições passaram a oferecer o curso. A SUESC no Rio de Janeiro. Hoje a UERJ também oferece o curso. Em Porto Alegre, a UFRGS. A USP que oferecia a opção fechou o curso por falta de procura, reabrindo em 2003. A PUC/SP passou a ser o único pólo de formação por muitos anos em São Paulo. Depois outros estados da federação passaram a oferecer. A PUC de Belo Horizonte, a Universidade de Brasília, entre outras. Há que destacar o esforço pessoal de dois profissionais obstinados que tomaram a iniciativa de levar o curso de Ciências Atuariais para Fortaleza e Curitiba. O professor Emílio Recamonde no Ceará e o professor Osny Dacol da FESP no Paraná.
Voltando ao questionamento do jovem estudante. Além das entidades que mencionei no segundo parágrafo, as oportunidades para atuação dos atuários são variadas. Muitas delas resultantes de iniciativas dos órgãos reguladores, tais como SUSEP, ANS, PREVIC, CVM e BACEN que desenvolveram um volumoso aparato regulatório que fez aumentar, significativamente o nível de responsabilidade das empresas que estão subordinadas a fiscalização desses órgãos.  Diferente de alguns colegas eu entendo que o atuário tem um campo amplo no mercado de trabalho. Eu diria que além das oportunidades tradicionais que é de conhecimento, as maiores oportunidades podem ser encontradas em empresas de auditoria, bancos e grandes empresas e grandes corretoras de seguros.
As empresas de auditoria externa passaram a contratar atuários por diversas razões. Em vista de estarem proibidas de dividir a opinião nos pareceres contábeis para fundos de pensão, seguradoras e empresas que administram planos de saúde ou porque a qualificação de base matemática dos atuários é muito útil nas diversas unidades onde tais empresas desenvolvem projetos. Eu, particularmente tive o privilégio de dar início à prática atuarial em duas das denominadas big four que hoje possuem em seus quadros atuários desenvolvendo projetos em diversas áreas dessas empresas.
Os bancos, face os instrumentos que foram criados pelo BACEN que exige mais tecnicidade na gestão de riscos dessas instituições. Basiléia II é um exemplo. Ela trouxe um foco maior quanto á gestão de risco, em grau similar ao exigido para Seguradoras.  Nas áreas de auditoria interna e compliance, também é possível encontrar oportunidades. Destaco ainda como opção as áreas de investimentos. Na Europa e Estados Unidos, os atuários sempre estiveram presentes nesse mercado em vista da formação de base matemática que os cursos de atuária podem oferecer. No Brasil é uma novidade que deve ser considerada pelos jovens atuários.
Nas grandes empresas é possível encontrar oportunidades na área de Recursos Humanos. A participação do atuário é bem vinda no desenho da cesta de benefícios que as empresas oferecem aos empregados e dirigentes, bem como na mensuração dos compromissos. Muitas empresas de grande porte realizam a gestão de risco, internamente e o atuário pode contribuir bastante com sua formação.
As grandes corretoras de seguros, também são uma boa opção, especialmente pelo fato de atuarem como consultores desenvolvendo soluções para seus clientes nas áreas de benefícios, saúde e de seguros.
Nos últimos anos a ANS têm procurado regular o mercado de saúde. Aqui, também é possível encontrar oportunidades de trabalho.
Com a abertura do mercado de resseguros à iniciativa privada, às resseguradoras passaram a ser uma boa opção para os atuários. Contudo, ainda de forma tímida, pois estão iniciando as operações.
É importante salientar que procurar especialização e investir na carreira é essencial para estar em melhor condição para explorar um mercado ou outro de atuação. As oportunidades sempre estão aparecendo, especialmente para quem é jovem e está procurando.
Sugiro a leitura dos artigos “Na busca da primeira experiência profissional” e “Mantendo talentos na organização” que postei no blog. Eles podem ser úteis para quem  esta buscando trabalho.  Boa sorte!
Marco Pontes é diretor da LG&P Advisory Services, membro do IBA e da Academia Nacional de Seguros e Previdência - ANSP

domingo, 26 de setembro de 2010

Solvência II - Uma abordagem didática

As duas últimas décadas propiciaram profundas mudanças na forma de gerenciamento das organizações, seja por imposição do ambiente regulatório, seja por iniciativa própria dos gestores. No setor de seguros, especialmente se levarmos em conta as especificidades do segmento, não foi diferente.
A matéria-prima da indústria de seguros é, na sua essência, o risco. Diversos aspectos complexos que envolvem o cotidiano dessas companhias são objeto de preocupações constantes dos gestores de seguros, como, por exemplo, os riscos associados à criação e à gestão dos produtos comercializados no mercado, o nível de equilíbrio das provisões técnicas para cumprir suas obrigações com o segurado, a adequação às regras dos órgãos fiscalizadores e a necessidade cada vez maior de dispor de capital econômico em níveis satisfatórios para propiciar novos investimentos à organização e lucro aos acionistas.
Como se não bastasse, o ambiente de riscos em que operam, as seguradoras passam por um processo acelerado de mudanças em que as condições econômicas voláteis –, combinadas com cenário de queda de juros, exposição do mercado de ações, aumento das tendências de longevidade, terrorismo, grandes desastres naturais, aumento acentuado da competitividade e casos de proteção legal – geram como conseqüência o aumento da necessidade de uma gestão de risco integrada. Tais preocupações não estão circunscritas às seguradoras que operam na União Européia, berço das normas de Solvência II. Trata-se de um fenômeno mundial que, de uma forma ou de outra, levaram ao modelo europeu que hoje serve de referência mundial. 
Servi-me deste preâmbulo para contextualizar o atual momento da indústria de seguros e propiciar uma visão do que ela representa e sua importância para uma nação. Essa visão que pretendo oferecer aos leitores é fruto do meu envolvimento com o tema e de incessantes discussões que tenho mantido com  gestores de seguradoras, colegas de profissão, auditores e contadores no Brasil e no exterior. No presente artigo pretendo fazer uma abordagem histórica de Solvência II de modo a propiciar aos estudantes de atuária e interessados no tema um resumo de uma apresentação que realizei para estudantes da PUC em São Paulo no último sábado.
Solvência II é um pacote de medidas consolidadas para melhorar o sistema de solvência de empresas de seguro localizadas na União Européia e que tem como finalidade substituir o regime criado na Europa na década de 1970 e aperfeiçoado na década de 1990. Sua meta principal é desenvolver um sistema para determinar o montante de capital que cada segurador deveria possuir para garantir que os segurados estejam adequadamente protegidos.
Todos nós estamos familiarizados com o conceito de capital mínimo tal como é praticado hoje. No entanto, as normas de Solvência II introduziram neste particular novos conceitos, ou seja, a apuração do Minimum Capital Requirement (MCR), por meio de uma fórmula simples, e a introdução do conceito de Solvency Capital Requirement (SCR), possivelmente calculado utilizando uma abordagem padrão teórica ou utilizando modelos de risco interno. Tanto a abordagem padrão quanto os modelos de risco interno precisam levar em consideração uma ampla série de modelos de classe de risco, inclusive riscos de subscrição, de mercado, de crédito, de liquidez e operacional, em que as exigências de capital serão determinadas de acordo com a exposição geral ao risco apresentada pela empresa. A agregação de risco, portanto, é crucial, uma vez que as reduções de capital por meio da diversificação estão diretamente relacionadas à agregação e à dependência de riscos entre às diversas classes de risco. 
Isto representa uma mudança drástica. Essencialmente, entende-se que, ao pretar essa garantia, as normas de Solvência II têm como propósito dar incentivos para a melhoria da gestão de risco dentro das empresas de seguro, exigindo que elas divulguem informações adicionais para melhorar sua transparência. É cada vez maior a expectativa de que a alta administração das seguradoras, de forma semelhante aos bancos, seja proativa na gestão de riscos de suas organizações. Conseqüentemente, as seguradoras precisarão fazer investimentos significativos em ferramentas e recursos para assegurar o cumprimento das exigências do conjunto de normas de Solvência II. A colaboração dos atuários nesse contexto é de vital importância. Todas as seguradoras que operam na União Européia serão afetadas, visto que a adaptação deverá ocorrer até o fim do ano de 2010.
O impacto e o nível de investimentos necessários dependerão do tipo e do porte dessas empresas. Em síntese, Solvência II introduz modificações técnicas de curto prazo que representam uma reavaliação geral das normas de supervisão de avaliação de riscos de seguradoras. Essa reavaliação propiciou um amplo processo de discussão iniciado na União Européia que foi acompanhado de perto pela SUSEP.
A principal razão para o Comitê Europeu promover às mudanças é porque concluiu  que o regime de solvência que por meio do modelo vigente adotado na União Européia não é sensível ao risco e não incentiva uma sólida gestão de riscos, tanto sob o ponto de vista do passivo quanto do ativo. Os riscos envolvendo os passivos são avaliados, segundo o modelo vigente, com base no volume de capital (exemplo: percentuais de prêmios e provisões técnicas), acreditando que esses riscos sejam mitigados por meio de avaliação de riscos de passivos e limites de investimentos admissíveis. Por outro lado, os riscos envolvendo os ativos são analisados apenas de maneira rudimentar, não levando em consideração, em hipótese alguma, os riscos de desbalanceamento entre ativos e passivos. 
A primeira fase das normas de Solvência II foi iniciada em meados de 2001 e finalizada em 2003 (fase conceitual) e teve como objetivo o desenvolvimento de uma estrutura de alto nível para o regime de solvência, a identificação de deficiências na estrutura atual de supervisão e a investigação do uso dos novos métodos e técnicas de avaliação de solvência. A União Européia promoveu diversos estudos. O primeiro estudo, realizado pela Conferência de Supervisores Europeus, concluiu que as exigências de capital são necessárias para a supervisão de seguros, mas que representam apenas uma das ferramentas preventivas que possibilitam a intervenção do órgão de supervisão. Esse estudo inicial revelou também que, além do cálculo de solvência, fatores como qualidade de gestão, por exemplo, podem levar as seguradoras a enfrentar problemas de gestão. O segundo estudo teve a finalidade de encontrar formas de avaliação da posição financeira de seguradoras, contendo recomendações de uma abordagem mais baseada no risco e uma visão econômica da avaliação dos aspectos de solvência. Na fase conceitual chegou-se à conclusão de que a estrutura formada por três pilares, semelhante às normas de Basiléia II adotadas para os bancos, era factível, pois combina mensurações quantitativas e qualitativas, além de melhorias na transparência geral. Em comparação com o regime de solvência vigente, as de Solvência II têm como foco, a posição financeira geral das seguradoras, levando em conta fatores que não foram abordados anteriormente, tais como: (i) balanceamento entre ativos e passivos; (ii) quantificação de riscos e mitigação de riscos sistêmicos; (iii) distribuição estatística de resultados futuros; (iv) convergência de modelos de riscos normativos e de riscos econômicos especificamente voltados à empresa. O principal aspecto dessa abordagem é a decisão de que a estrutura de solvência deve levar em consideração a exposição de risco e as circunstâncias envolvendo a empresa e o mercado, do ponto de vista holístico.
A fase II, denominada fase técnica, foi iniciada em 2003 e foi até meados de 2007. Esta fase abordou, o programa legislativo e administrativo de Solvência II, simultaneamente em três níveis, a saber: (1) o desenvolvimento da diretriz da estrutura proposta pela Comissão Européia a ser adotada pelo Parlamento e pelo Conselho Europeu; (2) a implantação de medidas de desenvolvimento pelo Conselho Europeu, incluindo regras técnicas detalhadas aprovadas pelo Comitê Europeu de Pensões Trabalhistas e de Seguros (em inglês EIOPC) e, finalmente, (3) a assessoria do Comitê Europeu de Supervisores de Seguros e de Pensões Trabalhistas (em inglês CEIOPS) para a Comissão Européia em resposta aos pedidos de assessoria para harmonização de abordagens de supervisão em toda a União Européia. 
No Nível 1 foram desenvolvidas medidas para implantação técnica e aprovação formal pela EIOPC, como representantes dos governos de cada país que compõe a União Européia. No Nível 3, a CEIOPS forneceu assessoria técnica à Comissão Européia sobre o desenvolvimento das medidas nos Níveis 1 e 2, formalmente respondendo a cada etapa dos pedidos de assessoria após obter os comentários das partes interessadas. Foi considerável, o escopo de assessoria e das consultas contempladas no desenvolvimento de cada nível das normas de Solvência II, incluindo a consulta de supervisores e associações, como a Associação Internacional de Supervisores de Seguros (IAIS), sobre normas relacionadas a supervisão e solvência, e a Associação Internacional dos Atuários (IAA), sobre adequação de capital; além da consulta a representantes do setor de seguros na Europa, como CEA e Comitê de Riscos Operacionais. 
Sob a perspectiva da estrutura de três pilares, é preciso salientar que o pilar 1 trata de exigências quantitativas que prevêem o MCR e o SCR, conforme já comentei, além de outras questões técnicas relevantes que compreendem a mensuração dos riscos técnicos propriamente ditos. Mas vamos nos ater apenas ao MCR e ao SCR. Esses capitais, comparados com o capital de fato disponível, ou seja, o conceito de capital econômico disponível em uma seguradora (representado pela diferença entre ativo e provisões técnicas), leva a três cenários possíveis: (a) se o capital econômico for maior que o SCR, a seguradora encontra-se suficientemente capitalizada; (b) se o capital estiver entre o SCR e o MCR, isso representará um primeiro indicador para o órgão de supervisão e para a seguradora e, finalmente, (c) se o capital disponível estiver abaixo do MCR, a seguradora será considerada tecnicamente insolvente.
O pilar 2 contempla aspectos qualitativos e enfoca os processos de controle interno e de gestão de riscos internos. A gestão de risco é definida em sentido geral e contempla os princípios de prudência atuarial, controle sobre acumulação e gestão de ativos e passivos que podem determinar ajustes dos níveis do SCR. O pilar 2 introduz novas exigências em relação a riscos que porventura tenham deixado de ser previamente quantificados de forma adequada, como, por exemplo, risco de grupo e risco estratégico. Os processos de supervisão também são definidos nos termos do segundo pilar e se baseiam nos níveis de capital (MCR e SCR), que contemplam níveis para intervenção dos supervisores. Se o capital disponível segundo as normas de Solvência II estiver subordinado aos SCRs, a autoridade normativa pode intervir antes que os níveis de capital fiquem abaixo do MCR. Dessa forma, o processo de supervisão ficará cada vez mais dependente do perfil de risco de cada seguradora.
O pilar 3 contempla as regras de transparência de mercado e divulgação para atendimento aos órgãos fiscalizadores e aos investidores. A transparência de mercado aumentará para permitir que os investidores e as partes interessadas obtenham melhores informações a respeito do risco real e do perfil de retorno de uma determinada seguradora. É especialmente interessante observar a extensão da convergência entre as normas de Solvência II e o desenvolvimento dos padrões contábeis que compõem o IFRS 4 (que trata das divulgações relacionadas com contratos de seguro), o IFRS 7 (que trata das divulgações com instrumentos financeiros) e, no longo prazo, a fase 2 da minuta de contratos de seguros contemplados no IASB, conjunto de regras contábeis aplicáveis às companhias seguradoras na União Européia.
O modelo ao qual estamos nos referindo foi testado na Suíça. Os testes de impacto de solvência aplicados demonstram que os estudos de impacto quantitativo foram de especial importância para a conscientização sobre as exigências a serem atendidas pelas companhias de seguros. O primeiro estudo dessa natureza foi concluído em 2005, tendo como foco a avaliação dos níveis de prudência nas atuais provisões técnicas, comparando-os com os intervalos de confiança predefinidos. Os resultados apresentados nos diversos estudos realizados pelas empresas participantes foram utilizados para possibilitar maior desenvolvimento das assessorias dadas pela CEIOPS à Comissão Européia. O segundo estudo de impacto quantitativo teve como foco às exigências de capital de acordo com as normas de solvência. Esses testes de campo foram de extrema importância para possibilitar que as CEIOPS desenvolvessem propostas mais concretas em relação ao cálculo de provisões técnicas, ajustes de margens de risco e ajuste de probabilidade de insolvência. Esses testes de impacto quantitativo compreendeu um processo iterativo em que estudos adicionais fossem exigidos ao longo de toda a fase de desenvolvimento da estrutura de Solvência II.
          Procurei acompanhar muitas dessas discussões relacionadas às questões técnicas com colegas especialistas no exterior e com profissionais de outras áreas da empresa a que pertencia, em razão dos aspectos multidisciplinares trazidos por Solvência II. O tema é complexo, mas ao mesmo tempo apaixonante. Desperta preocupação e dúvidas no ambiente profissional e corporativo das empresas seguradoras, como não poderia deixar de ser. Por meio de processos de consulta, o setor de seguros expressou diversas preocupações específicas. Muitas delas de difícil consenso.
O Brasil não ficou de fora dessa discussão. Em 2006 se antecipou ao estabelecer regras de capital, abrangendo o risco de subscrição. A SUSEP já anunciou que outros riscos serão regulamentados ao longo do ano. As seguradoras brasileiras já tem condições de definir a margem de solvência com base no modelo interno. Isso representou um  importante passo, visto que há pouco tempo o foco principal dos gestores de seguradoras foi a rentabilidade obtida no mercado. Com a dificuldade de obter ganhos mais elevados de rentabilidade, face a redução da taxa de juros, as operadoras terão que priorizar a gestão de riscos. Com a regulamentação das novas regras para tratar os demais riscos, as companhias brasileiras estarão alinhadas as melhores práticas de mercado. As companhias seguradoras que se adequarem a esta nova realidade terão dado um importante passo em relação aos seus concorrentes e o mercado não será mais o mesmo. Daí a importância dos atuários olharem com atenção esse movimento, visto que sua contribuição é de suma importância nesse processo.

Marco Pontes é diretor da LG&P Advisory Services e membro da Academia Nacional de Seguros e Previdência – ANSP. E-mail: marco.pontes@lgpconsulting.com.br

sábado, 25 de setembro de 2010

Fraude - a praga do mercado de seguros

O contrato de seguro é, em tese, um contrato de fé entre duas partes que tem como objetivo dar cobertura a um determinado bem que pode ser uma vida ou objeto, contra um infortúnio, visto que qualquer bem possui um valor monetário. De um lado, o segurado se compromete a pagar uma quantia para fazer face àquilo que deseja proteger. De outro lado, o segurador se compromete a repor a perda desse bem, mediante o recebimento daquela quantia.
Como especialistas, cabe a nós, atuários, a missão de estabelecer uma equação de equilíbrio que viabilize essa operação. Para isso, quando desenvolvemos um produto levamos em consideração uma série de variáveis e procedimentos. Em síntese, o processo de construção do preço de um produto comercializado por uma entidade que administra riscos consiste na avaliação da experiência histórica passada, nas características do produto que se pretende oferecer e na capacidade de se prever os riscos futuros.
Tomemos como referência a criação de um produto de seguro-saúde. Considerando as características do produto que se pretende oferecer, algumas questões relevantes são alvo de análise: Qual será o tipo de plano a ser oferecido? Individual ou Coletivo? Quais serão as coberturas oferecidas? Serão consideradas exclusões de determinados procedimentos? Serão previstas carências, existência de fatores moderadores (franquias, co-participação, limites financeiros)? Qual será a forma de viabilização (rede credenciada ou livre escolha, com ou sem reembolso)? Qual o tipo de acomodação que o segurado utilizará? Qual o público-alvo a que se destina, nível de renda e outras particularidades?
Finalizada essa etapa, desenvolvemos o processo de análise da segmentação de risco e combinamos essas variáveis com outras relacionadas à população que se pretende atingir, tais como: idade, sexo, hábito de vida, profissão, histórico de doenças preexistentes, região de utilização, clinicas credenciadas, especialidade, o custo dos prestadores de serviço médicos, entre outros. Para compor o processo de tarifação ou definição de preços, baseamo-nos em experiências passadas, estatísticas de mercado, custo médio de eventos referentes a produtos similares e riscos futuros, tais como: variação de despesas médicas, variação de unidades médicas, epidemias, política de gerenciamento dos riscos e prevenção.
 Com base nisso, procuramos obter a tarifa pura que, acrescida dos custos de administração e comercial, determina o custo final do produto que se deseja oferecer ao mercado. Lembramos que esse custo deve ter alguns atributos fundamentais, quais sejam: deve ser seletivo, acessível ao consumidor, competitivo, incentivador do controle de perdas e, finalmente, garantidor da solvência da empresa.
Servi-me desse preâmbulo para tratar de um fato exógeno que tem causado graves distorções nos preços do seguro, especialmente no Brasil. Referimo-nos à fraude que tem proporcionado prejuízos relevantes às seguradoras, à economia nacional e, em última instância, à sociedade. A fraude não é um problema que atinge apenas o mercado de seguros brasileiro, trata-se de uma praga mundial, razão de preocupações crescentes e constantes nos mercados seguradores e que tem crescido assustadoramente.
 Uma das principais causas da fraude no seguro é a facilidade na sua consecução. As fraudes são cada vez mais sofisticadas. Os fraudadores têm se aproveitado com eficiência dos avanços tecnológicos na área de comunicação e informática para a reprodução de documentos fraudulentos, dificultando em demasia a apuração da veracidade do sinistro.
A fraude significa engano lesivo, mentir, abuso de confiança, ação de má-fé, adulteração, ou seja, é crime e deve ser vista como ato criminoso contra a economia, pois distorce a relação de equilíbrio de que já tratamos, anteriormente, elevando artificialmente a sinistralidade, ou seja, afeta diretamente os preços do seguro. As maiores vítimas dessa ação maléfica são os bons consumidores que acabam por pagar a conta. Ora, o consumidor tem um limite de capacidade para assumir compromissos e, obviamente, ultrapassado esse limite, ele deixa de fazê-lo. Essa situação acaba comprometendo seriamente o desenvolvimento do mercado de seguros.
Especula-se que apenas 30% da frota nacional de veículos esteja segurada. Engana-se quem pensa que isto ocorre por falta de previdência por parte do consumidor. Entendemos que prevalece como principal justificativa para esse quadro o custo proibitivo do seguro que está contaminado com o alto índice de fraudes. O consumidor tem um limite de comprometimento de sua renda. No caso do seguro saúde, apesar de o custo ser igualmente elevado, a questão é amenizada pela participação direta da empresa na repartição do custo com o segurado, assumindo, na grande maioria das vezes, a maior parte do custo.
Esses crimes podem ser cometidos por quadrilhas, criminosos que optaram por fazer da fraude um meio de vida, como também por cidadãos comuns, independentemente da classe social a que pertençam que, por uma falha de caráter, necessidade financeira ou oportunidade tentadora, acabam por cometer o delito. São ocorrências incríveis que a área de Sinistros de uma seguradora manipula, diariamente. 
Como já comentamos, o contrato de seguro é um contrato de fé entre as partes. As seguradoras têm como princípio confiar nas declarações do segurado e no documento por ele assinado e seu corretor.  Do ponto de vista legal, não existem mecanismos que possibilitem à seguradora selecionar seu segurado, alguns contratos de seguro têm de oferecer a garantia a partir da zero hora do dia seguinte ao pagamento da prestação do seguro. Por outro lado, os custos administrativos aumentariam, substancialmente, se as seguradoras tivessem de fazer uma avaliação prévia e criteriosa do segurado. Trata-se de uma questão complexa. Existem fraudes em todos os ramos de seguro; entretanto, a seguradora, na grande maioria das vezes, tem apenas indícios da fraude, e no Brasil a prova indiciária não é aceita pelo Poder Judiciário. Além do que, prevalece a crença de que as seguradoras são empresas ricas e poderosas e tudo podem. Contudo, as pessoas esquecem que a fraude acaba sendo paga pelo bom consumidor, pois está embutida nas estatísticas que servem de base para a determinação do preço do seguro, como já dissemos. Quando, eventualmente, as seguradoras comprovam a fraude, lamentavelmente se limitam a cancelar o seguro e não pagar a indenização e dar o assunto por encerrado, permitindo, assim, que o fraudador aplique novos golpes no mercado, quando se deveria abrir processo criminal. Esse procedimento, decididamente, não contribui para melhorar essa situação. Muitas providências ainda terão de ser tomadas para combater as fraudes no Brasil. É de fundamental importância discutir a fundo o problema, a fim de minimizar as perdas provenientes dessa ação maléfica. O Sr. Lúcio Marques junto com Luis Roberto Castilgione, estudiosos do assunto, defendem a criação do Comitê Brasileiro de Combate à Fraude.
Este parece ser o melhor caminho a ser percorrido que, no futuro, poderá trazer bons resultados. Por mais esforço que se faça, nenhuma seguradora, sozinha, conseguirá obter sucesso com uma ação isolada. Não existe solução de curto prazo. A questão está ligada a uma mudança drástica de postura por parte das empresas seguradoras em relação ao problema. A solução passa por uma ação institucional e, para que isso ocorra, é necessário superar os paradigmas que ainda inviabilizam uma ação conjunta, por parte das empresas de seguro.
 Algumas empresas preferem pagar o seguro, ainda que existam indícios de fraude, pois o custo para provar a fraude pode ser significativamente maior, atingindo a sua imagem no mercado, em face da forte pressão exercida contra as seguradoras para liquidação dos sinistros.
Deve-se buscar, constantemente, formas de ampliar a fiscalização, criar protocolos internos mais eficientes que permitam, dentre outras medidas, uma ação investigativa, criar bancos de dados, e investir fortemente em educação e marketing.
A legislação americana é extremamente rigorosa e possui uma longa tradição de combate contínuo à fraude. A Europa criou um Comitê de Combate às Fraudes que opera em sintonia com as Seguradoras, órgãos de Segurança Pública e Polícia Federal. Nesse sentido, foram estabelecidos inúmeros protocolos de cooperação que dificultam esse tipo de ação. As iniciativas mais recentes na Europa para aperfeiçoar a detecção e a prevenção da fraude estão associadas às iniciativas de nível interno nas empresas, fato muito comum, mas que tem forte apoio no âmbito institucional. Criaram-se unidades especiais no âmbito de empresas para coordenar as atividades antifraude nos diferentes ramos de seguros. Recursos foram aplicados na formação de pessoas e intermediários. Investimentos em pesquisa e educação possibilitaram a elaboração de manuais que tratam dos indicadores de fraude. Cooperação estreita entre as instâncias judiciárias e governamentais são incentivadas e aperfeiçoadas. O desenvolvimento de bases de dados informatizadas, cadastros centralizados, como o Claims and Underwriting Exchange – CUE na Inglaterra, que são administrados de acordo com um código de boas práticas, tem permitido obter resultados positivos. Existe uma estreita cooperação entre os principais interessados para coibir a ação fraudulenta. Apesar de terem desenvolvido diversos projetos eficientes de cooperação e de prevenção contra a fraude, ainda assim, é extremamente elevado o número de fraudes. No ramo de seguros de Incêndio na Europa, estima-se que 25% a 40% dos custos do seguro têm motivação voluntária. Isso representa somas gigantescas para as seguradoras. São números alarmantes. Uma das principais causas deste tipo de sinistro é um incêndio deliberadamente provocado. O seguro-Incêndio, em face de suas particularidades, é um dos mais difíceis de provar. Isto posto, cuidados especiais têm sido tomados.
Mas afinal de contas, qual o impacto das fraudes nos preços do seguro no Brasil? Lamentavelmente, teremos de esperar algum tempo para responder a essa pergunta. O que existe hoje são especulações. Alguns acreditam que esteja em torno de 20%, outros defendem 40%. A verdade é que nós ainda não temos condições de quantificá-lo. Em setembro de 2010, a Accenture, renomada empresa de consultoria divulgou o estudo "Improve Customer Service and Fraud Detection to Deliver High Performance Trrough Claims - Insurance Consumer Fraud Survey 2010". Segundo o estudo, citando a referência "National Insurance Crime Bureau, Insurance Fraud:Undestanding the Basics, 2010 - a estimativa atual é de que 10% dos seguros nos Estados Unidos em ramos elementares são fraudulentos, com uma taxa de detecção de fraudes de apenas 20%. Atualmente a preocupação neste assunto é crescente, já que é consenso que em momentos de crise como é o caso da economia americana, a crise por si só é um estímulo maior para as fraudes ocorrerem. Para ter acesso na íntegra ao relatório da Accenture acesse o link:  https://www.accenture.com/NR/rdonlyres/2353FCD7-DCB0-4AB5-ABC6-452C3919902C/0/Accenture_Insurance_Consumer_Fraud_Survey_PoV.pdf 
Diante do que foi exposto, entendo que para obtermos dados mais precisos no Brasil teremos de aguardar algum tempo, pois medidas mais eficazes no âmbito institucional terão ainda de ser desenvolvidas. Trata-se de um desafio do mercado segurador. A praga ainda continuará contaminando os preços de seguro, por algum tempo, trazendo perdas para a sociedade, impedindo o acesso da população à proteção do seguro e prejudicando o desenvolvimento do mercado segurador no Brasil e no mundo. 

Marco Pontes é diretor da LG&P Advisory Services e membro da Academia Nacional de Seguros e Previdência – ANSP.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Na busca da primeira experiência profissional

     O nível de exigência das empresas aumentou muito, comparativamente à época que os jovens da minha geração buscavam uma oportunidade no mercado de trabalho. Era muito comum no passado encontrar anúncios com os seguintes dizeres. “Procuram-se jovem com formação superior”.“Não é preciso ter experiência profissional anterior, mas boa apresentação é indispensável”. Normalmente você se deparava com uma editora em busca de vendedores. Esses tipos de anúncio não existem mais.
     Entre as principais exigências que as empresas fazem hoje, destaco: ter proficiência em idiomas, conhecer informática e possuir um curso de MBA. Quem dispõe desses atributos tem melhores chances de obter uma colocação. Mesmo assim não é fácil. Quem não teve a oportunidade de investir em um segundo idioma ou de fazer um curso de MBA não significa que não terá uma oportunidade. Os jovens dispõem de uma grande vantagem, perante os profissionais mais experientes, isto é: o tempo. Portanto tenha em mente que nunca é tarde para superar uma eventual defasagem que tenha em relação a um ou outro requisito exigido por uma empresa.
     Uma questão chave para superar esse desafio e ter claro que o planejamento é importante. Portanto construa um projeto com metas factíveis de serem alcançadas e ponha em prática. Se você estabelecer metas difíceis de serem cumpridas às chances de desistir são maiores. Planeje-se com cuidado e estabeleça um plano de ação para alcançar seus objetivos de curto, médio e longo prazo, especialmente na carreira profissional. Se você fizer isso poderá, com o tempo, observar que muitas dificuldades ou barreiras que, eventualmente, tenha ficarão para trás e suas chances aumentarão, significativamente. Por ora vão algumas dicas, conforme segue:
O que você realmente quer? Pode parecer uma pergunta, sem sentido, mas não é. Esse exercício ajuda muito encontrar caminhos.
Estabeleça prioridades: Faça um plano viável de ser implantado e siga-o com disciplina para atingir os resultados que deseja.
Saia da toca: Faça contato com o maior número de pessoas para aumentar sua rede de contatos. Não perca o vínculo com seus colegas da faculdade que já obtiveram uma colocação. Mantenha contato com os profissionais que atuam na área que deseja atuar. Participe de eventos de recursos humanos para saber mais o que eles pensam e, dos eventos de sua profissão. Mostre-se para as pessoas.
Aprenda a ouvir: Ouça com atenção às pessoas. Jamais subestime um interlocutor. Administre a ânsia de falar. Fale menos e ouçã mais. Muitas vezes pessoas dizem coisas que são de grande utilidade e deixamos passar em branco ou não damos o devido valor.
Controle a ansiedade: Costumo dizer que existem dois tipos de ansiedade. A ansiedade positiva que contribui para seu crescimento, e a ansiedade tóxica que resulta no fracasso de uma iniciativa. Um exemplo de ansiedade positiva é quando estamos super motivados para concluir um projeto e, a ansiedade serve como combustível para você encontrar o sucesso. Já a ansiedade tóxica é aquela que coloca tudo a perder e que todos nós estamos familiarizados.
Mantenha a curiosidade desperta: Uma das principais qualidades que um profissional deve perseguir é a busca por novos conhecimentos. Não acredite que o conhecimento que adquiriu será suficiente para alcançar sucesso na sua carreira. Se você acreditar nisso, inevitavelmente ficará acomodado. A acomodação evolui para a estagnação. Mantenha a chama por novos conhecimentos, permanentemente acesa em busca de aperfeiçoamento.
Seja persistente: Melhor, persiga com obstinação seus objetivos. Na qualidade de ser humano estamos suscetíveis ao sentimento de tristeza e desânimo. Isso faz parte da natureza humana, mas não permita que isso tome muito de seu estado de espírito.
     Embora o nível de exigência quanto à qualificação seja cada vez maior, as empresas valorizam outros atributos, igualmente importantes, tais como: ética, responsabilidade, dedicação, empenho, capacidade de trabalhar em equipe, espírito colaborativo, humildade e lealdade, entre tantos. Portanto não desanime.
     Diferente da época que entrei no mercado de trabalho, onde os jovens com formação superior conseguiam trabalho com muito mais facilidade e tinham como conselheiros, a família e os amigos, hoje além da família e dos amigos, a internet é um importante aliado para ter um melhor desempenho em uma entrevista. Lá você encontrará muitas dicas para estar melhor preparado. São dicas valiosas que sugiro pesquisarem. Mas, gostaria de compartilhar com vocês um link que foi postado no LinkedIn, recentemente. O link reproduz um episódio que ocorreu em um processo de seleção de uma prestigiosa empresa, quando o candidato foi solicitado a descrever sobre sua experiência profissional. Veja abaixo desse parágrafo. Vale à pena ler. O segundo link aborda os dez´erros mais cometidos em uma entrevista. Sucesso em sua busca pela primeira colocação profissional.


Marco Pontes é diretor da LG&P Advisory Services e membro da Academia Nacional de Seguros e Previdência – ANSP.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Mantendo talentos na organização

Após a publicação do artigo, o ambiente multigeração dentro da organização e o RH, conversei com o CEO de uma empresa que desabafou em críticas quanto à lealdade dos profissionais mais jovens. Ele tem razão, acentuei essa característica no artigo. De fato os profissionais mais jovens tendem a ter um comportamento errante, especialmente os recém formados. Faz parte de sua característica. A paciência não é um atributo na faixa dos 20 a 30 anos.  O desejo e a ambição por crescimento é suscetível á melhor oferta, especialmente, os profissionais bens preparados que entra no mercado de trabalho com formação sólida, proficiência em idiomas e em informática, isto é, aqueles que são objeto de desejos das empresas. A busca por reconhecimento rápido e a demora da organização em reconhecer essa necessidade deflagra uma inquietação natural que se não for adninistrada com competência em tempo, inevitavelmente faz o jovem buscar um novo horizonte em busca de reconhecimento, e claro de melhores salários. Já testemunhei organizações perder profissionais por mera desatenção ou falta de cuidado, isto é: diferenças salariais insignificantes, não ter demonstrado o devido valor, entre outras.
  Concordo que os jovens não têm a mesma lealdade típica de profissionais na faixa etária acima dos 45 anos, entretanto não se pode negar que em sua grande maioria são profissionais dedicados, empenhados e de grande potencial para desenvolvimento.  O que fazer para segurar um jovem talento na organização?  Não tenho a intenção de indicar uma fórmula. A organização precisa ter claro que a maior parte do trabalho cabe a ela realizar, sob pena de ver seus talentos partir para a concorrência. Eles melhor do que os profissionais da minha geração são mais exigentes, quanto às demonstração de reconhecimento.
 Ter um plano de carreira é essencial. Um plano que estabeleça metas claras, objetivas e factíveis de ser alcançada pelo profissional. Um plano de carreiras serve para separar o joio do trigo ou empresas com propósito de crescimento e expansão daquelas que no fundo não tem o compromisso com o futuro.  Observo com muita freqüência, empresas que possuíam um grande potencial para expandir e se tornar muito maior e deixaram a oportunidade passar por força de uma visão inviesada, obtusa e egoísta da liderança. Tais empresas sempre serão pequenas, independente do comportamento do cenário econômico e dos diversos fatores exógenos que tem que lidar no cotidiano. Foi uma opção seguir esse caminho. Normalmente, tais organizações buscam nos discursos formas de tentar reter um talento. Na grande maioria das ocasiões, os discursos não estão alinhados com a realidade praticada e o jovem na atualidade percebe essa distorção com muita rapidez. Basear-se em discursos para manter jovens talentos pode funcionar por um curto período de tempo.  Não mais do que isso.  Naturalmente, a empresa do CEO que se queixava não se encaixa nesse perfil. Trata-se de uma grande empresa, mas mesmo as grandes empresas cometem erros e se descuidam.
Ter um coaching é essencial dentro desse processo. O melhor coaching é aquele profissional que está dentro da organização e que passou por experiência semelhante no processo de crescimento dentro da empresa. Ele deve ser um exemplo a ser seguido. Normalmente esse papel deve ser exercido por profissionais mais seniores e experientes que sentem prazer em compartilhar às experiências adquiridas ao longo de sua trajetória e que passou por fase semelhante e, portanto, está familiarizado com o processo.

 Uma barreira muitas vezes intransponível é a distância que existe entre os líderes da organização e a equipe. Muitas vezes essa distância age como uma barreira entre gerações dentro de uma organização e como fator desestimulante. É uma queixa muito comum e freqüente que observo. Muitas empresas têm conseguido superar esse desafio com certo sucesso. Proliferam os programas de canal direto com a presidência e os diretores executivos e outros programas mais criativos que possibilita tal aproximação. Essa aproximação pode trazer ganhos significativos, pois propicia a formação de referências dentro da empresa e contribui para inspirar os profissionais mais jovens estimulando-os a mostrarem seu valor.
Com freqüência cobrir uma oferta por meio de um aumento salarial para manter um jovem na organização não é a melhor alternativa. Na grande maioria das ocasiões, apenas adia por alguns poucos meses a partida do jovem para um concorrente ou trás outros problemas. Investir na oferta de um MBA como forma de demonstrar valor e reconhecimento pode ser muito mais eficiente. A empresa precisa manter o jovem motivado em busca de novos conhecimentos. Investir no aprimoramento de seu conhecimento é fundamental e costuma ser bem vista pelo jovem como forma da empresa demonstrar reconhecimento e confiança em seu potencial.
Eu tive a oportunidade de participar de um projeto que se mostrou de grande eficiência para retenção de jovens talentos. Um programa inovador que se revelou valioso em momentos chaves. Uma iniciativa criativa. Consistia em convidar os pais dos profissionais recém chegados à organização para apresentar a empresa. Eles participavam do evento junto com seus filhos. Normalmente um coquetel. Nessa ocasião, o líder da empresa discursava sobre os valores corporativos, a missão da empresa entre outros temas. Os sócios e diretores descreviam com entusiasmo a forma com a qual evoluíram dentro da organização, as soluções que ofereciam ao mercado e os casos de sucesso. Independente da intenção em manter um talento e do firme propósito em tê-los conosco e de nossa capacidade como gestor em persuadi-lo muitas vezes não conseguimos obter sucesso. Não podemos ganhar todas, eventualmente perdemos um ou outro. Ás vezes é melhor deixá-los seguir seu caminho. Faz parte do jogo. Todavia em muitas ocasiões, o programa que fiz menção evitou a saída precoce de um jovem talento. Por quê? Por mais que sejamos sinceros e experientes na arte de persuadir muitas vezes precisamos de ajuda externa. Nesses casos, o maior aliado que tivemos para manter o talento dentro da empresa foram os pais que intercederam juntos aos filhos no sentido de administrar a impaciência típica do jovem talento. A cooperação dos pais foi fundamental no processo. Não é para menos, afinal eles costumam ter um poder de interferência maior do que nós profissionais, aliado ao fato de que desejam o melhor para seus filhos.
Não existem fórmulas para manter um talento dentro da organização da mesma forma que é válido o ditado “nossos filhos não vem ao mundo com bula”. Esse é um desafio da área de Recursos Humanos, dos líderes da empresa que devem buscar a superação desse importante desafio no cotidiano por meio de ações eficazes e criativas. A tarefa não é fácil, porém não é impossível. Vale à pena.
Marco Pontes é diretor da LG&P Advisory Services e membro da Academia Nacional de Seguros e Previdência – ANSP.

Atualize-se sobre o encontro das comissões do FASB e do IASB

Atualize seus conhecimentos. Os membros do board do US Financial Accounting Standards Board (FASB) estiveram reunidos com o board do IASB em Londres entre os dias 14 e 16 de setembro para discutir sobre os temas abaixo. Leiam os principais resultados do encontro:

§         Annual improvements
§         Emissions trading schemes
§        Fair value measurement
I
§       Management commentary
§       Post-employment benefits
Rate-regulated activities

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Norma de benefícios a empregados será tema de preocupação de gestores em 2010

O Brasil deu um passo importante ao aderir às regras do International Financial Report Standard – IFRS. O IFRS é o padrão internacional de contabilidade que o Brasil passa a adotar a partir de 2010, que compreende um conteúdo vasto de normas contábeis. Neste artigo tratarei das preocupações que os gestores de empresas devem ter quanto á aplicação da norma CVM 600, equivalente ao IAS 19 que trata da contabilização dos benefícios a empregados.  O Comitê de Pronunciamentos Contábeis trabalhou, arduamente, ao longo dos últimos anos para preparar um conjunto de normas de modo atender, o desafio de viabilizá-las, em tempo. A norma do CPC 33 convalidada pela CVM 600 trata do reconhecimento de despesas com empregados que, até então, passavam despercebidas nos relatórios contábeis e financeiros das companhias.
 Entre as mudanças que irão figurar nas demonstrações financeiras, estão novidades na contabilização de ativos e passivos atuariais, e na divulgação dos resultados, e das premissas utilizadas na avaliação de benefícios a empregados.   Como reconhecer despesas em um momento de maior volatilidade dos mercados globais, tendo sob pano de fundo, a indefinição sobre o impacto de outros pronunciamentos nos resultados das Companhias, não constitui, um cenário confortável para os gestores, será comum algumas empresas recorrer ao corte de custos para tornar o negócio mais enxuto, como estratégia para enfrentar eventuais cenários de adversidade. Trocando em miúdos; é possível haver mudanças no desenho da cesta de benefícios oferecida aos empregados, redução sistemática de alguns benefícios ou mesmo extinção de outros. Na mira estarão os programas de benefícios de longo prazo, tais como aposentadoria, saúde, seguros de vida, entre outros.
Na qualidade de consultor sempre procuro destacar a atenção que os gestores financeiros e de recursos humanos devem ter em endereçar o tema, adequadamente, pois caso não adotem medidas pontuais, situações administráveis podem se transformar em um verdadeiro pesadelo. A seguir destaco alguns deles: (i) redução no resultado da empresa, por conta da necessidade de reconhecimento de passivos e/ou contingências até então não exigidas pela contabilidade local; (ii) redução de lucros para os acionistas e do bônus dos administradores, independente da habilidade na gestão da organização ao longo do exercício; (iii) a possibilidade de adiamento de projetos de investimento por conta dos impactos negativos nas Demonstrações Financeiras; (iv) perda de competitividade em relação aos concorrentes; (v) dificuldades na negociação da empresa frente a um eventual processo de fusão ou negociação; (vi) a intensificação do clima de insatisfação junto aos empregados por força de decisões que venham contrariar conquistas passadas, e finalmente (vii) exposição da organização a litígios trabalhistas e previdenciários. Por outro lado, as mudanças também podem gerar o reconhecimento de Ativos na contabilidade da organização, aliviando o caixa da empresa para viabilizar outros projetos de investimento. Ativos, até então, não permitidos para uso pela legislação brasileira.
Chamo atenção, em especial para o fato de apesar de, em um primeiro momento cortar benefícios, parecer uma solução tentadora, pode não ser a mais indicada. As empresas devem buscar alternativas antes de tomar uma decisão dessa natureza, pois elas existem. Decisão precipitada pode se revelar desestimulante para os empregados e trazer resultados inesperados no médio e longo prazo, como perda de profissionais qualificados, dificuldade em atrair talentos, e, ainda, acionar o gatilho para embates de ordem jurídica e trabalhista intermináveis que afetam diretamente, o ambiente da organização. Suprimir benefícios pode não ser uma atitude prudente, podendo se revelar em um eventual desperdício de recursos. A solução da equação só será possível de obter, se existir equilíbrio na negociação a ser travada entre gestores financeiros e de recursos humanos. Naturalmente, também dependerá dos recursos que a empresa dispõe, e dos valores corporativos que a empresa possui. Como podemos observar, o tema é complexo. O ano promete muita reunião entre gestores financeiros, de recursos humanos, advogados e consultores. Só assim, será possível encontrar uma solução que vá de encontro aos interesses dos empregados e empregadores.
Caso tenha interesse em aprofundar o tema em sua organização por meio de uma Palestra In Company sobre o tema entre em contato por meio do email mailto:marco.pontes@lgpconsulting.com.br..

Marco Pontes é diretor da LG&P Advisory Services e membro da Academia Nacional de Seguros e Previdência – ANSP. E-mail: marco.pontes@lgpconsulting.com.br  

Programa educativo contra a fraude. Por que não?

Quando eu trabalhava em empresas de auditoria era questionado com certa freqüência sobre sua eficiência, especialmente nos momentos em que a imprensa noticiava algum escândalo envolvendo um grande grupo empresarial. Naturalmente, eu acredito na importância que tais empresas desempenham na sociedade sob uma forma de salvaguarda. Por outro lado reconheço que em situações pontuais, quando um administrador ou grupo de administradores tem a intenção de lesar a organização é possível o dolo acontecer, especialmente nos tempos atuais, pois à medida que a tecnologia evolui por meio de sofisticadas técnicas as organizações ficam mais expostas à fraude.
As estatísticas comprovam que conjugado ao avanço da tecnologia, eventuais crises econômicas aumentam a possibilidade da fraude se tornar mais freqüente. Em economias mais atentas aos prejuízos que a fraude traz existe um consenso de que a capacidade da empresa em lidar com tais situações enfraquece a medida que o binômio, tecnologia e ambiente econômico crítico atuam como vetores fomentadores de fraude.
No Brasil, especialmente apesar de reconhecer avanços no sentido de coibir tal prática, acredito que ainda estamos longe de estabelecer ações eficazes para evitar os prejuízos que elas trazem. Talvez minha convicção esteja associada à crença de que as empresas ainda agem de forma paternalista ao lidar com tais situações. Como agir nesses casos para evitá-la sob a perspectiva da empresa? A resposta a essa pergunta reside, basicamente no desenvolvimento de ações educativas preventivas. Uma alternativa eficaz são os denominados programas de conscientização junto aos empregados. Para que isso seja possível as organizações devem caminhar no sentido de estabelecer uma política clara sobre roubo e fraude e disseminá-la, tal qual um código de conduta, de modo que fique claro o que se espera do empregado e do que não é explicitamente tolerável. Uma política para tratar esse assunto é um bom começo. Portanto, se sua organização não possui um programa com esse propósito, talvez esteja na hora de pensar em desenvolver um.
Ninguém mais além do fraudador ganha com a fraude. As conseqüências da fraude são nefastas para uma organização e seus empregados. Implica em perda de tempo e custos financeiros para todos, pois pode impactar no resultado da empresa, reduzindo o lucro da organização, conseqüentemente a redução da participação nos lucros ou dos programas de benefícios, tais como o plano de aposentadoria, plano de saúde e tantos outros ou mesmo levar a uma situação mais crítica como à insolvência ou falência. Uma forma de viabilizar um programa dessa natureza é tratar o tema segundo uma abordagem holística dentro da organização com o envolvimento de todos no processo. Profissionais de segurança, advogados e empregados leais podem ser de importância fundamental dentro desse processo. Não existe processo mais eficiente do que educar os empregados contra essa praga que atinge as organizações. A participação de todos os funcionários dentro do processo pode ser um dos fatores de sucesso nessa empreitada. Se eles sentirem que fazem parte do programa, os objetivos serão mais fáceis de serem alcançados.
Palestras de profissionais especialistas em segurança contribuem como ação preventiva. Da mesma forma os programas que estabelecem linhas de comunicação direta para denúncia nos moldes do 0800, também podem contribuir. Os programas inibidores de fraude devem se considerados como uma alternativa viável para um combate mais eficiente aos desperdícios e malefícios que a fraude representa. Quanto mais claras estiverem às regras e conseqüências por infringi-las pode tornar o programa anti-fraude mais eficiente. O que sua empresa tem feito para evitar essa praga?
Marco Pontes é diretor da LG&P Consulting, membro do Instituto Brasileiro de Atuária (IBA) e da Academia Nacional de Seguros e Previdência (ANSP).
Twitter: @MarcodePontes
Skype: Marco.Antonio.Pontes
Blog: www.marcoponteslgpconsulting.com.br

Contratos de Seguros x Investimentos sob a perspectiva do IFRS 4

A partir de 2010, o Brasil inicia a adoção dos padrões de contabilidade internacional, conhecidos como IFRS inserindo-se no contexto da contabilidade internacional. A publicação dos balanços segundo esse padrão passa a ser obrigatória para as companhias abrangidas pela Lei 11.638. A finalidade da convergência é propiciar o provimento de informações contábeis de forma mais transparente para investidores e órgãos de supervisão. Assim, os investidores na Europa, Ásia ou América do Norte, Brasil e vice-versa terão condições de ler e comparar os balanços publicados pelas companhias, segundo um padrão legível, propiciando maior credibilidade das informações disponíveis.
São significativos os benefícios que o novo padrão trás, especialmente para as companhias com atuação no exterior que ficam desobrigadas de preparar vários relatórios, segundo padrões diversos, gerando assim maior economia operacional. Com a adoção do IFRS, haverá uma mudança significativa na forma de contabilizar as informações financeiras no balanço das companhias. Aumenta significativamente o número de informações que deverão constar no Balanço e tende a cair por terra alguns paradigmas vigentes.
Para tornar o IFRS uma realidade, a Comunidade Européia teve que se basear em princípios, caso contrário não seria possível compatibilizar um meio termo entre os países que fazem parte da Comunidade. Esse é um aspecto que tem sido utilizado com freqüência por alguns especialistas que são contrários a adoção inexorável do IFRS. Eu não compartilho da crítica desse respeitável grupo que vê no fato da norma se basear em princípios um precedente perigoso, tornando a contabilidade mais subjetiva. Não penso assim. O número de profissionais que defendem o adiamento do IFRS já foi maior do que é hoje. Eu esperava que o cronograma fosse seguido em 2009, mas houve o adiamento para 2010. Tenho mantido contato permanente com alguns profissionais que defendem um novo adiamento que não descarto ocorrer. Nas rodas de discussão costumo dizer que é inevitável à implantação do novo padrão, valendo-me da seguinte afirmação; se o balanço das companhias é definido como uma fotografia da organização, a adoção do novo padrão trás uma nova perspectiva. Abandonamos a velha fotografia e entramos na era do DVD.   
Um dos aspectos mais polêmicos do IFRS 4 é a distinção entre contratos de seguros e contratos de investimentos que tem sido objeto de discussões intermináveis, especialmente no Brasil, destacando que o foco do IFRS 4 é o contrato de seguros. No âmbito do IFRS um contrato de seguro é definido quando não há transferência de risco significante. Sob essa perspectiva encontram-se às sociedades seguradoras, empresas de capitalização, entidades de previdência que operam planos de benefícios definidos ou ortodoxos ou produtos de risco. Nesses casos o IFRS exige a aplicação do parágrafo 15 que trata da realização do Liability Adequacy Test. O teste de adequação dos passivos tem a finalidade de avaliar por meio de estimativas correntes de fluxo de caixa dos contratos de seguros, se as provisões técnicas estão adequadas. Mas isso é um assunto para ser tratado em outra oportunidade.

Os contratos de investimento são definidos como contratos em que não há a transferência de risco significante. Na categoria de contratos de investimentos podemos destacar; os contratos de resseguro financeiro, os contratos de sorteios que exige o pagamento de uma soma, se ocorrer o evento futuro e incerto previsto na condição contratual prévia e os contratos de investimento desenhados na forma de um contrato de seguro que não exponha a Seguradora a um risco significativo. Por exemplo; no caso de um produto de previdência cujos componentes seja eminentemente financeiros ou de poupança. Tanto na fase de capitalização do fundo, quanto na fase de pagamento do benefício.
Como ficam os produtos da família VGBL e PGBL? Em 2008 quando respondi pela primeira vez essa pergunta eu afirmei que deveriam ser caracterizados na forma de um contrato de seguro, em vista do fato do período contratual abranger a inatividade do participante segurado, pois no período de pagamento da renda, a seguradora iria se deparar com a administração de fatores aleatórios característicos, tais como: sobrevivência, invalidez, garantia de taxa de juros, entre outros. Na ocasião lembro que alguns contestaram, quando manifestei tal opinião. Hoje estou mais flexível em vista da forma com a qual os formatos desses planos são modelados. A SUSEP tende a permitir à possibilidade da companhia seguradora fazer a opção em caracterizar um contrato como contrato de investimento ou de seguro. Entretanto, uma vez feita à opção não poderão mudar, posteriormente. 
Marco Pontes é diretor da LG&P Advisory Services e membro da Academia Nacional de Seguros e Previdência – ANSP.