domingo, 5 de dezembro de 2010

Oportunidades sob a perspectiva do risco atuarial

             Os investimentos realizados pelas grandes corporações e instituições emergentes em qualquer área da atividade econômica são motivados em função de dois vetores. Iniciativa própria em face à crescente complexidade do mundo dos negócios ou por força de mudanças no ambiente regulatório.
            Tecnologia, capacitação, capital humano, produtos, serviços, qualidade, eficiência, otimização e produtividade, entre outros, são temas que constam  na pauta de preocupação diária dos gestores estratégicos.
            Por outro lado é mais frequente a ação dos orgãos reguladores no sentido de regular o mercado de modo a proporcionar maior transparência, incentivo à prática de boa governança corporativa e segurança que têm gerado, sem sombras de dúvidas mais oportunidades.
As exigências dos órgãos reguladores buscam oferecer maior segurança ao mercado e melhor governança. No âmbito das seguradoras e entidades financeiras Sox 404, IFRS, Basileia II e Solvência II são excelentes oportunidades para serem exploradas. Todavia, todas elas geram outras oportunidades no âmbito da gestão de risco. E o risco atuarial é uma dessas oportunidades que não deve ser menosprezada pelas instituições, pois é sabida a importância que possui.
Sob a perspectiva das instituições financeiras que buscam um sistema de gestão mais eficiente: o risco atuarial está presente sob as seguintes perspectivas. Seja como acionista (na forma de seguradora ou entidade de previdência), empregador (ao contabilizar benefícios pós-emprego oferecidos aos empregados) ou gestor financeiro (ao definir a política de investimentos de ativos), os bancos e as seguradoras encaram a questão como fator crítico, uma vez que a ausência de um monitoramento dos riscos atuariais pode comprometer a saúde financeira da instituição.
É nesse cenário que bancos e seguradoras estão se preparando para a farta exigência de Basiléia II e de Solvência II, que privilegiam a mensuração de riscos. São mudanças importantes para essas indústrias e que demandam uma análise não apenas sob a perspectiva da gestão atuarial, mas da organização como um todo.
Basiléia II estabelece, em linhas gerais, novas regras para as áreas de gerenciamento de risco e supervisão bancária, de modo a conferir maior segurança e estabilidade ao sistema financeiro internacional. Já Solvência II, pacote de medidas para aprimorar o sistema de solvência de empresas de seguro da União Européia, tem como meta desenvolver um sistema para determinar o montante de capital que cada segurador deveria possuir para garantir que os segurados estejam adequadamente protegidos.
As mudanças em relação ao que existia são drásticas, mas ao prestar essa garantia Solvência II incentiva a melhoria da gestão de riscos das empresas de seguro, exigindo que elas divulguem informações adicionais para aperfeiçoar sua transparência.
No Brasil, a Superintendência de Seguros Privados (Susep) após ter introduzido a necessidade de tratar o risco de subscrição, trabalha no risco de crédito cujas regras deverão ser publicadas ainda este ano. Portanto há muito trabalho a ser feito.
            As áreas de risco das instituições financeiras terão de buscar maior capacitação para monitorar o risco atuarial em conjunto com os demais riscos. Um diagnóstico realista indica que o assunto ainda tem sido visto como tabu pelos controladores de riscos dessas empresas. Ainda persiste uma visão superficial sobre o tema, o que contribui para a ausência de seu monitoramento ou para a sua fraca priorização. Como resultado, o risco atuarial tem sido freqüentemente subestimado. O tema não deve permanecer estigmatizado ou renegado a um nível secundário, pois requer preocupação, iniciativa e priorização por parte dos gestores.           
Seja sob a perspectiva do Acordo de Basiléia II ou de Solvência II surge a oportunidade de derrocar esse tabu. Acreditamos que, em razão da abordagem enfaticamente orientada à mensuração de riscos inerente ao Acordo de Basiléia II, Solvência II e às normas que a Susep pretende implantar, as organizações que priorizarem o risco atuarial em suas agendas terão dado um passo importante para tornarem-se mais seguras. Portanto, as áreas de auditoria interna dessas organizações precisam ter atuários preparados para cobrir essa importante lacuna.

Marco Pontes é diretor da LG&P Consulting, membro do Instituto Brasileiro de Atuária (IBA) e da Academia Nacional de Seguros e Previdência (ANSP).
Twitter: @MarcodePontes
Skype: Marco.Antonio.Pontes



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