domingo, 13 de março de 2011

O mercado segurador está preparado para cumprir seu papel, diante de um cenário como o que se abateu sobre o Japão?

            
            O risco é o grau de incerteza a respeito de um evento acontecer.  Quando os especialistas trabalham com mensuração de eventos certos, isto é, aqueles que ocorrerão é menos complexo o tratamento a ser empregado para minimizar perdas.  Já os eventos associados a catástrofes da natureza por definição no campo das probabilidades costumavam ter probabilidade residual, pois em geral catástrofes são raras. Pelo menos eram. Estimar a probabilidade de uma catástrofe ocorrer para nós matemáticos é mais complexo do que eventos associados ao cotidiano, porém não é impossível, mas é preciso reavaliar os critérios de mensuração de tal possibilidade, abandonando de vez metodologias que se baseiam, exclusivamente em fatos passados, caso contrário, fatalmente estaremos subestimando os efeitos devastadores de terremotos, tsunamis, tempestades, enchentes, incêndios, erupções vulcânicas e crises econômicas, visto que tem aumentado com freqüência. Os impactos causados por catástrofes apresentam três características comuns, quando ocorrem, isto é: freqüência de sinistro alta, severidade de sinistro elevada e perdas significativas.
            Cientistas têm advertido com freqüência quanto às mudanças climáticas no globo. Sem entrar no mérito do que os governos estão fazendo. Se estão ou não seguindo o protocolo de Kioto ou os alertas dos estudiosos sobre os efeitos da camada de ozônio sobre o clima, algumas perguntas despertam nossa atenção. Entre elas: Diante do cenário de uma catástrofe como a que ocorreu no Japão, às seguradoras estão preparadas para administrar o risco de catástrofe? Diante de tal tragédia, o primeiro reflexo da catástrofe japonesa poderá se refletir no valor de suas ações na bolsa de valores. Apesar disso, em termos teóricos, penso que o mercado japonês pode superar este momento. Para fundamentar minha afirmação recorro ao conjunto de medidas de aprimoramento do sistema de supervisão de solvência adotado pelos países componentes da União Européia que tem a finalidade de proteger mais os direitos dos segurados, encorajar mais investimentos em gestão de riscos e divulgar melhor a exposição dos riscos assumidos aos órgãos de supervisão, aos segurados e aos acionistas. Refiro-me a Solvência II. Mas, sem dúvida, o mercado segurador japonês passará por um grande teste. Sinceramente, espero que consigam absorver às elevadas perdas e superem os tempos difíceis que terão com o pagamento de tantas indenizações.
Entretanto, a pergunta acima suscita outro questionamento. O mercado de seguros, em geral, está gerenciando de forma eficaz o risco de insolvência por eventos de catástrofe? Devo destacar que existe uma diferença entre a primeira e a segunda pergunta que possuem relativa semelhança. Apesar de ser otimista em relação a crer que em termos teóricos temos instrumentos suficientes para prevenir contra a insolvência de uma seguradora, o mesmo otimismo não é válido para a segunda pergunta. O que me leva a crer em tal fato é a resistência que muitas companhias possuem de investir em administrar o risco, segundo uma perspectiva mais alinhada com o que prega Solvência II, especialmente no Brasil, onde acredito que a situação é mais dramática, pois muito poucas seguradoras de fato investiram em técnicas mais aprimoradas para gerir seus riscos e por uma questão cultural que infelizmente ainda predomina. Por exemplo. Apesar de o Brasil ter dado um passo importante ao aderir às normas internacionais, infelizmente, o órgão regulador não adotou o risco de catástrofe na modelagem do capital mínimo requerido. Penso que deveria, pois pelo que temos acompanhado nosso país deixou já a alguns anos de estar imune a catástrofes.
Marco Pontes é diretor da LG&P Advisory Services e membro do IBA e da Academia Nacional de Seguros e Previdência – ANSP. Email: marco.pontes@lgpconsulting.com.br


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